O ano de 2024 marcou o maior registro de focos de calor na Amazônia em 17 anos, segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Até o início de dezembro, foram contabilizados 137.538 focos, superando os números de todos os anos desde 2007, exceto aquele ano, que registrou 186.480 focos.
Impacto Regional: A situação é especialmente preocupante no Pará, estado com maior número de focos de calor (54.561), com destaque para os municípios de São Félix do Xingu (7.353), Altamira (5.992) e Novo Progresso (4.787).
Depoimentos: Francisco Wataru Sakaguchi, agricultor de Tomé-Açu, relatou em vídeo para a TEDxAmazônia: “Já vi situações extremas, mas eu nunca tinha visto nada tão forte quanto agora”. Ele precisou cancelar uma palestra para conter um incêndio próximo à sua propriedade, mas lamentou a perda sofrida por muitos vizinhos. Daniel Gutierrez, brigadista voluntário de Alter do Chão, distrito de Santarém, descreveu a situação como inédita em sua década de vivência na região, afirmando: “A fumaça que a gente sentiu nos últimos meses, eu nunca tinha visto antes… Esse ano foi muito pior”.
Aumento Considerável: Comparado a 2023, houve um aumento de 43% nos focos de calor, saltando de 98.646 para 137.538. A maior parte dos registros ocorreu entre julho e novembro, com setembro apresentando 41.463 focos, ultrapassando a média histórica de 32.245 para o mês.
Distribuição Nacional: A Amazônia concentra a maior parte dos focos de calor do país (50,6%), seguida pelo Cerrado (29,6% / 80.408 focos), Mata Atlântica (7,7% / 21.051), Caatinga (6,5% / 17.736), Pantanal (5,3% / 14.489) e Pampa (0,2% / 419).
Vulnerabilidade da Amazônia: O engenheiro Alexandre Tetto, coordenador do Laboratório de Incêndios Florestais (Firelab) da UFPR, explicou a maior vulnerabilidade da Amazônia ao fogo devido à sua característica ombrófila (muito úmida), com estratos densos que dificultam a dispersão do vento e impedem a adaptação natural à propagação de incêndios. Em contraste, o Cerrado, por ser dependente do fogo para sua evolução, apresenta maior resistência.
Consequências para a Saúde: Em Santarém, a fumaça das queimadas causou uma grave crise ambiental. Em 24 de novembro, o MPF apontou que a poluição do ar foi 42,8 vezes superior à diretriz anual da OMS. A Secretaria Municipal de Saúde registrou 6.272 atendimentos relacionados a problemas respiratórios entre setembro e novembro.
Combate aos Incêndios: Brigadas voluntárias, como a de Alter do Chão, atuam no combate aos incêndios, muitas vezes em conjunto com o ICMBio e outras equipes. Gutierrez reforçou a necessidade de melhores investigações para identificar as causas dos incêndios, quase que exclusivamente relacionados à ação humana, segundo os especialistas.
Fatores Climáticos: Tetto destacou que as condições climáticas de 2024, com temperaturas altas, baixa umidade do ar, ventos fortes e estiagem prolongada, contribuíram significativamente para a propagação do fogo. Apesar da possibilidade de queimadas controladas e autorizadas em condições específicas, o aumento exponencial de focos de calor indica uma situação crítica.
Impactos Ambientais e Sociais: Sakaguchi descreveu impactos ambientais extremos em sua região, com o secamento de lagos e a morte de açaizeiros em áreas alagadas que nunca haviam sofrido esse impacto. A região de Tomé-Açu sofreu com a menor umidade relativa do ar da sua história, com 150 dias sem chuva e umidade abaixo de 50%, chegando a 42% em alguns dias. A situação de incêndios na vegetação é preocupante em todo o país, como demonstra o caso do Rio Grande do Norte, que registrou mais de 1,8 mil incêndios em 2024, conforme notícia publicada em nosso portal.
Ações Governamentais: A Semas-PA relatou aumento do efetivo no combate a incêndios, com reforço de bombeiros, viaturas, equipamentos e apoio aéreo. O estado solicitou apoio federal para reforçar o combate às queimadas. O Ministério do Meio Ambiente informou a mobilização de mais de 1.700 profissionais, aeronaves, embarcações e viaturas no combate a incêndios na Amazônia, além da assinatura de um pacto com governadores e a sanção de leis para o manejo integrado do fogo, incluindo R$ 514 milhões em crédito para o combate aos incêndios na Amazônia, incluindo R$ 114 milhões para o MMA.
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