Corais de fogo no litoral do RN sofrem declínio de 70% em cinco anos: aquecimento e turismo desordenado são apontados como causas

Cerca de 70% dos corais de fogo da costa norte do RN morreram nos últimos cinco anos, aponta pesquisador

Um estudo recente aponta para um preocupante declínio de cerca de 70% na população de corais de fogo na costa norte do Rio Grande do Norte nos últimos cinco anos. A área afetada compreende os municípios de Rio do Fogo, Touros e Maxaranguape, região que abriga uma importante Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC).

De acordo com o pesquisador Guilherme Longo, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o principal fator por trás desse fenômeno é o aquecimento das águas oceânicas. No entanto, práticas de turismo desordenado também contribuem significativamente para a degradação dos recifes. A situação é semelhante a outras regiões, onde o Brasil Registra Aumento Alarmante de Desastres Climáticos, impactando diversos ecossistemas.

A situação é alarmante, considerando a importância dos recifes de corais como habitat para diversas espécies marinhas, muitas delas ameaçadas de extinção. Além disso, os recifes desempenham um papel crucial no turismo local e são fontes de pesquisa para o desenvolvimento de novos medicamentos. O Turismo no Rio Grande do Norte, por exemplo, depende da saúde desses ecossistemas.

A APARC, criada em 2001 e administrada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema), abrange uma área de 1.360 quilômetros quadrados e visa conciliar a preservação da biodiversidade marinha com atividades turísticas e econômicas sustentáveis. O MPRN renova adesão ao Programa A3P para fortalecer práticas sustentáveis, um esforço importante para a região.

Além do desaparecimento dos corais, outras espécies, como o peixe budião azul, outrora comum na região, estão se tornando cada vez mais raras.

O Impacto do Aquecimento e o Branqueamento dos Corais

O aumento da temperatura da água do mar provoca o chamado branqueamento dos corais, um sinal de que o ecossistema está sob estresse. Esse processo ocorre quando os corais, em resposta ao calor, expulsam as microalgas que vivem em seus tecidos e que são responsáveis por sua coloração e nutrição.

Guilherme Longo explica que, embora o branqueamento possa ser um processo natural, as ondas de calor oceânicas estão se tornando mais frequentes devido às mudanças climáticas.

Quando a água do mar esquenta, o processo de fotossíntese das microalgas aumenta, levando a um excesso de oxigênio que causa estresse oxidativo nos corais.

“É igual quando a gente coloca água oxigenada no lugar machucado que dá aquela ardida. Começa a acontecer isso dentro do coral. Então o coral expulsa essas algas. Por isso ele fica transparente e a gente vê o esqueleto branco através do tecido”

O branqueamento enfraquece os corais, tornando-os mais vulneráveis a doenças e outros fatores de estresse. Corais de outras regiões também sofrem com o mesmo problema, como em Pernambuco e Alagoas.

Corais de Fogo: Os Mais Vulneráveis

Entre as espécies de corais, o coral de fogo (Millepora alcicornis) é particularmente sensível ao aumento da temperatura da água. Quase 100% da população dessa espécie sofre branqueamento, e cerca de 95% não resiste ao processo. Por outro lado, o coral estrela (Siderastrea stellata), mais abundante na região, apresenta uma taxa de mortalidade menor após o branqueamento.

Em 2020, pesquisadores observaram branqueamento em corais a até 30 metros de profundidade, embora os corais em águas rasas sejam os mais afetados. Em 2024, o pico de temperatura foi registrado entre março e maio, com sinais de recuperação dos corais a partir de julho e estabilização completa em setembro.

Turismo Irregular: Uma Ameaça Adicional

A gestora da APARC, Jaciana Barbosa, destaca a preocupação com a atuação de embarcações irregulares que transportam turistas para os parrachos. A visitação à área é regulamentada e restrita a empresas registradas. A situação é agravada pela ocorrência de incidentes, como o que levou a Capitania dos Portos suspender passeios turísticos nos parrachos.

Mesmo que o branqueamento seja um fenômeno natural em escala global, as atividades humanas podem intensificar seus efeitos localmente. A presença de um grande número de pessoas nos parrachos pode aumentar a temperatura da água e causar danos físicos aos corais. A gestora da unidade de conservação ressalta que o coral de fogo desapareceu completamente das áreas visitadas, enquanto ainda é encontrado, em menor proporção, em áreas de preservação total.

Em março de 2024, o Idema notificou mais de 50 embarcações turísticas irregulares para que interrompessem os passeios na região. Em setembro do mesmo ano, duas turistas morreram após o naufrágio de uma embarcação que continuava operando ilegalmente na área, o que levou à suspensão temporária dos passeios nos parrachos de Touros e Rio do Fogo. A necessidade de fortalecer o turismo e a economia, deve andar em conjunto com ações de preservação do meio ambiente.