Um estudo abrangente, publicado pelas Edições Câmara, investigou as causas da persistente desigualdade econômica no Brasil, revelando que políticas públicas, apesar de terem o objetivo de promover a redistribuição de renda, muitas vezes perpetuam ou até mesmo intensificam as disparidades sociais. A publicação, intitulada Agenda Brasileira: Desigualdade Econômica, é resultado do trabalho de consultores legislativos da Câmara dos Deputados.
O organizador da publicação, Thiago Caldeira, explica que a desigualdade não é apenas uma questão de bens materiais, mas também de capital social e humano. Segundo Caldeira, os indivíduos de classes mais favorecidas herdam um conjunto de vantagens culturais e redes de contatos que aumentam suas chances de sucesso, criando um ciclo de reprodução da desigualdade. A análise da publicação abrange diversas áreas, incluindo reformas tributárias e da previdência, políticas habitacionais, subsídios no setor elétrico e desigualdades de oportunidades no mercado de trabalho.
Transferência de Renda Inversa
Uma das principais conclusões do estudo é que muitas políticas, embora concebidas para promover o crescimento econômico, acabam resultando em uma transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. Caldeira destaca que “algumas políticas vêm com a intenção de promover crescimento econômico, mas que, com olhar dando transparência e a sociedade fazendo análise detalhada daquilo, vai perceber que algumas dessas políticas geram resultado ruim em termos de desigualdade econômica”.
Segregação Urbana e Desigualdades
Outro ponto crucial abordado é o papel das políticas urbanas na segregação de classes. A pesquisa indica que a segregação dificulta a troca de experiências e a formação de redes de contatos para os mais pobres. A proximidade social, segundo os autores, poderia contribuir para a ascensão social, mas o zoneamento urbano, considerado o “mecanismo de segregação mais bem-sucedido já inventado”, impede a integração e perpetua as desigualdades. As políticas de zoneamento urbano, ao restringirem a expansão das áreas mais valorizadas, deslocam os mais pobres para regiões cada vez mais distantes.
Previdência e Desigualdade
O estudo também aponta distorções no sistema previdenciário. Um exemplo citado é a contribuição dos Microempreendedores Individuais (MEI) no Regime Geral de Previdência. Enquanto a maioria dos trabalhadores contribui com alíquotas entre 7,5% e 14% sobre seus rendimentos, os MEIs contribuem com uma alíquota fixa de 5% sobre um salário mínimo. Segundo os autores do estudo, essa discrepância beneficia trabalhadores com renda superior, já que apenas 18,4% dos contribuintes cadastrados como MEI em 2023 estavam entre os 50% mais pobres da população. Isso resulta em uma situação onde trabalhadores de baixa renda financiam os benefícios previdenciários de microempreendedores com rendimentos muito maiores.
Medidas de Redistribuição e Potencial de Impacto
Por outro lado, o estudo também identifica mecanismos de redistribuição de renda que beneficiam os mais pobres, como o cashback implementado na reforma tributária e políticas educacionais como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O cashback, que devolve impostos pagos em produtos essenciais para a população de baixa renda, tem potencial de beneficiar cerca de 71 milhões de pessoas.
A publicação completa está disponível em versão digital gratuitamente na Biblioteca Digital da Câmara.
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