Um estudo recente do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (Autistas Brasil) revela um crescimento alarmante na disseminação de desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) na América Latina e Caribe, especialmente no aplicativo Telegram.
Expansão exponencial da desinformação
A pesquisa analisou mais de 58 milhões de publicações em 1.659 grupos conspiratórios sobre autismo, envolvendo mais de 5 milhões de usuários em 19 países da região. O volume de desinformação aumentou mais de 150 vezes nos últimos seis anos, com um crescimento ainda mais acentuado durante a pandemia de COVID-19 – um impressionante aumento de 635% nos primeiros anos da crise sanitária.
Em 2019, o número de publicações mensais sobre autismo era baixo (apenas quatro). Em 2020, saltou para 35 e, em 2025, atingiu o preocupante número de 611 publicações mensais, representando um crescimento de 15.000%. O Brasil concentra quase metade do conteúdo conspiratório sobre TEA no Telegram, com 22.007 publicações que alcançaram 1,7 milhão de usuários, somando quase 14 milhões de visualizações. É importante ressaltar que o município de Macaíba (RN) oferece terapia ABA gratuita para crianças com Transtorno do Espectro Autista via SUS.
Teorias falsas e falsas curas
O estudo identificou mais de 150 teorias errôneas sobre as causas do autismo, incluindo alegações de que a radiação de redes 5G, vacinas, o consumo de alimentos específicos (como Doritos) e até mesmo os chamados “chemtrails” seriam responsáveis pelo transtorno. Além disso, foram encontradas mais de 150 falsas “curas”, muitas envolvendo produtos ineficazes ou perigosos, explorando financeiramente famílias em busca de soluções para seus filhos. Em Natal, o Natal Shopping Recebeu Homenagem por Ações de Inclusão para Autistas.
Guilherme de Almeida, coautor do estudo e presidente da Autistas Brasil, alerta: “Muitas dessas terapias são comercializadas pelos próprios autores das postagens, transformando o desespero das famílias em negócio”.
A pandemia como catalisadora
A pandemia de COVID-19 desempenhou um papel crucial na proliferação dessas teorias conspiratórias. Ergon Cugler, coordenador da pesquisa, explica que o contexto de medo e incerteza gerado pela crise sanitária favoreceu a disseminação de informações falsas. “O que começou como desinformação durante a pandemia foi se consolidando e transformando-se em um fluxo contínuo de teorias perigosas”, afirma Cugler.
Consequências da desinformação
Os impactos da desinformação são graves, afirma Almeida. Além de comprometer o diagnóstico precoce e o acesso a tratamentos adequados, ela reforça estigmas que isolam ainda mais as pessoas autistas. A desinformação também desvia recursos públicos e privados para práticas pseudocientíficas, prejudicando políticas públicas de inclusão. Em Natal, a prefeitura lançou o “Busão da Inclusão” e selo “Autista a Bordo” em apoio a pessoas com TEA.
Combate à desinformação
Para combater esse problema, os pesquisadores defendem maior atenção da sociedade aos conteúdos divulgados em redes sociais, especialmente aqueles que apelam para emoções e carecem de comprovação científica. Cugler destaca a necessidade de responsabilizar criminalmente quem lucra com a disseminação de mentiras e de exigir maior responsabilidade das plataformas de redes sociais na moderação de conteúdos prejudiciais à saúde pública. A conscientização e a educação são essenciais para fortalecer o pensamento crítico da população e reduzir a propagação de informações enganosas.
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