Intoxicação por bolo deixa três mortos e dois hospitalizados no RS; polícia investiga arsênio

Uma trágica ocorrência em Torres, no Rio Grande do Sul, resultou na morte de três mulheres e na hospitalização de outras duas pessoas, incluindo uma criança de 10 anos, após o consumo de um bolo. As vítimas fatais foram as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, além da filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos. Zeli dos Anjos, irmã de Neuza e Maida e responsável por preparar o bolo, também foi hospitalizada, assim como o neto de Neuza. Ambas as pessoas hospitalizadas encontram-se em condição clínica estável.

O delegado Marcos Vinícius Veloso, responsável pela investigação, informou à RBS TV que os sete indivíduos que comeram o bolo relataram um gosto incomum, descrito como *apimentado e desagradável*, logo nas primeiras mordidas. Zeli chegou a interromper o consumo do bolo após as reclamações, mas, pouco tempo depois, todos que o haviam ingerido começaram a passar mal.

De acordo com o delegado, alguns familiares consumiram o bolo mesmo sem muita vontade, por consideração a Zeli, que era vista como uma pessoa carinhosa. Após o menino de 10 anos reclamar do sabor, Zeli teria impedido que mais pessoas comessem, já que naquele momento os sintomas começaram a surgir.

O marido de Neuza, que não consumiu o bolo, não apresentou sintomas. Já o marido de Maida chegou a ser hospitalizado, mas recebeu alta posteriormente. Os nomes deles não foram divulgados oficialmente.

Investigação policial e suspeita de arsênio

A polícia está investigando a presença de arsênio no sangue das vítimas, um achado constatado em exames realizados pelo hospital. As primeiras análises laboratoriais indicaram a presença da substância tóxica no sangue de Neuza, uma das vítimas fatais, e também em Zeli e no sobrinho-neto dela, ambos sobreviventes.

Uma das linhas de investigação é que ingredientes do bolo, como frutas cristalizadas e uvas-passas, possam ter sido reutilizados após ficarem armazenados na geladeira de Zeli por um período prolongado. Em novembro, a geladeira da residência de Zeli apresentou problemas e os alimentos ficaram expostos a um apagão. Apesar do descarte de carne e outros itens, alguns ingredientes podem ter sido reaproveitados, segundo o delegado.

O corpo de Paulo, marido de Zeli, falecido em setembro após um quadro de intoxicação alimentar, será exumado para averiguar a presença de arsênio e possíveis conexões com o caso atual. A polícia aguarda os resultados de exames no bolo e em outros materiais coletados no local.

Até o momento, cerca de 15 pessoas já foram ouvidas no inquérito. A polícia já descartou a possibilidade de disputa por herança como motivação para o ocorrido, pois a família possuía bom relacionamento.

Os laudos periciais do bolo, que devem ser divulgados na próxima semana, poderão indicar se houve contaminação cruzada de alimentos e o que havia presente no bolo.

Entenda o caso

No dia 23 de dezembro, sete pessoas da mesma família estavam reunidas para um café da tarde quando começaram a passar mal. Apenas uma pessoa não teria ingerido o bolo. Zeli, que preparou o alimento em Arroio do Sal e o levou para Torres, também foi hospitalizada.

As mortes ocorreram em um intervalo de poucas horas. Tatiana e Maida tiveram parada cardiorrespiratória, enquanto Neuza faleceu devido a choque pós intoxicação alimentar, segundo informações do hospital.

O delegado Marcos Vinícius Veloso informou que Zeli foi a única pessoa a comer duas fatias do bolo e que a maior concentração do veneno foi encontrada em seu sangue. A polícia está investigando as hipóteses de envenenamento ou intoxicação alimentar.

O que é arsênio

Conforme o professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), André Valle de Bairros, o arsênio é o elemento químico, enquanto o arsênico é a forma composta, sendo o trióxido de arsênio a mais tóxica. Segundo o especialista, a partir de 100 mg é possível levar um adulto à morte.

Embora o arsênico tenha sido usado como raticida no passado, seu uso é proibido no Brasil para essa finalidade, sendo restrito ao tratamento de leucemia promielocítica aguda em pacientes oncológicos. O professor destaca que o arsênio é um elemento de alta toxicidade, com ocorrências de contaminação em fontes de água, leite, carne e frutas. Porém, a exposição a concentrações maiores não significa necessariamente uma intoxicação.

A polícia está investigando a presença de arsênio no sangue das vítimas, um achado constatado em exames realizados pelo hospital.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *