A presença de lixo com origem em outros continentes, flagrada na Praia do Segredo, em Natal, não é um caso isolado. A Associação de Proteção e Conservação Ambiental Cabo de São Roque (APC Cabo de São Roque) alerta que o problema se repete em pelo menos outras três praias do litoral potiguar: Muriú (Ceará-Mirim), Cabo de São Roque (Maxaranguape) e Búzios (Nísia Floresta). Vale lembrar que a Balneabilidade no litoral da Grande Natal também é um problema constante.
Segundo Lucas Veríssimo, biólogo e presidente da APC Cabo de São Roque, a situação persiste desde 2018. Em 2021, uma pesquisa da associação identificou lixo de 23 países apenas na Praia de São Roque, em Maxaranguape. A gravidade do problema se mantém, com a identificação constante de resíduos estrangeiros nas praias monitoradas. A Marinha do Brasil divulga contatos para denúncias de emergências e crimes ambientais no RN, sendo este um canal para reportar tais situações.
A associação, que realiza mutirões de limpeza a cada 15 dias nas praias dos municípios citados e em Parnamirim, detalha que o lixo estrangeiro encontrado não apresenta sinais de degradação prolongada, indicando um descarte recente. A suspeita é que embarcações cargueiras descartem o material próximo à costa para evitar custos de descarte em portos.
"A gente percebeu que o lixo que chegava na beira da praia não era um lixo que tinha um tempo que chegou na praia, que tinha uma degradação natural do resíduo, que passou muito tempo levando sol. Era um lixo limpo, que tinha acabado de ser consumido e ser descartado", afirmou Veríssimo.
Entre os itens encontrados, destacam-se produtos com rótulos em mandarim, francês, italiano e inglês, incluindo fardos lacrados de água mineral da Malásia. "Encontramos fardos fechados de água mineral, de garrafa de 2 litros, de uma garrafa que é bem comum. Eu digo que essa garrafa é bem comum, uma garrafa da Malásia, tem um rótulo vermelho. Toda praia que a gente anda a gente encontra ela. Lacradinho, com água mineral dentro", detalhou o biólogo.
Em oito meses de 2024, a APC Cabo de São Roque, em parceria com o projeto Onda Limpa, removeu cerca de 1 tonelada de resíduos das praias onde atua. Em uma ação específica em Maracajaú, foram recolhidos 249 quilos de resíduos, com 90% sendo plástico.
Embora o lixo de origem brasileira represente a maior parte do material coletado (80%), os 20% de lixo estrangeiro apresentam um potencial poluidor maior, incluindo óleo de embarcação, seringas, medicamentos e cigarros. A situação é preocupante, e os Desastres climáticos no Brasil disparam 250% em quatro anos, evidenciando a urgência de ações efetivas.
Para mitigar o problema, a APC Cabo de São Roque propõe a implantação de pontos de coleta e a intensificação da limpeza nas praias, além de medidas para impedir o descarte de lixo por embarcações. A associação ressalta a importância da conscientização e da responsabilidade individual na preservação do litoral, especialmente em áreas de desova de tartarugas-de-pente, espécie ameaçada que frequentemente ingere plástico e outros resíduos.
"A gente anda na praia e não vê uma lixeira", disse Veríssimo. "E ainda estimular às equipes de limpeza urbana a acessarem essas praias que não tem continuidade nas limpezas".
Veríssimo conclui com um alerta sobre as consequências da inação: "Se a gente deixar isso acontecer, criar esse cemitério de resíduos, quem vai pagar somos nós".