O mercado financeiro brasileiro testemunhou uma nova escalada do dólar nesta quarta-feira (18), atingindo a marca de R$ 6,26. A instabilidade cambial é impulsionada por fatores internos, como a tramitação do pacote fiscal no Congresso (Câmara aprova texto-base de ajuste fiscal com limites de gastos em caso de déficit), e externos, com a expectativa em torno da decisão de juros do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.
No cenário nacional, a Câmara dos Deputados aprovou uma primeira etapa do pacote de medidas de corte de gastos proposto pelo governo. A medida aprovada impede a expansão de benefícios tributários quando as contas públicas apresentarem desempenho negativo. Adicionalmente, um mecanismo de contenção é acionado quando o governo registra déficit primário, limitando o aumento de despesas com pessoal.
Ainda há expectativa para a votação de outros pontos cruciais do pacote, como alterações na regra do salário mínimo e abonos salariais, antes que as propostas sigam para apreciação do Senado. O governo estima que as medidas aprovadas possam gerar uma economia de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026, alcançando R$ 327 bilhões até 2030. Esses ajustes são considerados essenciais para que o governo alcance a meta de déficit zero nos próximos dois anos.
Apesar dos esforços do governo, o mercado financeiro demonstra pessimismo, com receios de que as medidas fiscais adotadas não sejam suficientes para controlar o endividamento público em longo prazo. A ausência de medidas que afetem gastos estruturais, como a Previdência e os pisos de investimento em saúde e educação, preocupa investidores e analistas.
Paralelamente, a atenção global está voltada para a reunião do Fed. A expectativa majoritária do mercado é de um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros americanas, estabelecendo um novo patamar entre 4,25% e 4,50% ao ano. Essa possível redução de juros nos EUA poderia ter um impacto positivo no Brasil, uma vez que, com a queda da rentabilidade dos títulos americanos, investidores poderiam buscar opções mais atrativas em mercados emergentes como o brasileiro, que recentemente elevou sua taxa básica de juros (Selic).
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira (B3), acompanha o movimento de baixa no mercado de câmbio, registrando queda de 2,23% aos 121.921 pontos. O dólar, por sua vez, atingiu R$ 6,2382 às 16h10, com pico de R$ 6,2557 durante o dia, refletindo o aumento da aversão ao risco no mercado nacional.
Desempenho do Dólar:
- Ganho de 1,01% na semana.
- Alta de 1,58% no mês.
- Avanço de 25,62% no ano.
Desempenho do Ibovespa:
- Alta de 0,07% na semana.
- Perda de 0,77% no mês.
- Recuo de 7,07% no ano.
O governo brasileiro busca equilibrar as contas públicas em consonância com o novo arcabouço fiscal, que determina que o país deve zerar o déficit público nos próximos dois anos, e que a partir de 2026 deve começar a arrecadar mais do que gasta. Contudo, as medidas adotadas até o momento não parecem convencer o mercado, que considera que o avanço da dívida pública não será contido a longo prazo.
Interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais robusta na área fiscal, com o anúncio de medidas complementares às já apresentadas, para reverter o cenário negativo e acalmar os investidores. A aprovação do pacote já enviado ao Congresso é vista como um passo importante, mas não como uma solução definitiva para conter a alta do dólar.
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) divulgada na terça-feira, indicou novas elevações na taxa Selic para os primeiros meses de 2025, o que pode tornar os títulos nacionais mais atraentes para investidores.
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