O ano de 2024 marcou uma forte desvalorização do real frente ao dólar, com a moeda americana registrando uma valorização de 27,34%. Esse desempenho negativo, o pior desde 2020, quando a pandemia de covid-19 causou turbulências no mercado financeiro, colocou o real como a segunda moeda que mais perdeu valor no ano.
Apesar da intensa atuação do Banco Central (BC) no mercado cambial, a moeda brasileira não conseguiu reverter a tendência de queda. No último pregão do ano, em 30 de dezembro, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 6,18. A taxa Ptax, referência oficial do país, fechou em R$ 6,19, representando uma valorização acumulada de 27,91% da moeda americana em relação ao real. Segundo dados da Elos Ayta Consultoria, esse é o pior desempenho anual desde 2020, quando o câmbio subiu 28,93% devido ao choque da pandemia.
Intervenção do Banco Central
O Banco Central realizou uma intervenção significativa no último dia de negociação, injetando US$ 1,815 bilhão no mercado em um curto período de tempo. Essa ação, que ocorreu após o dólar atingir a máxima da sessão, de R$ 6,2426, fez a moeda americana recuar 0,21%, fechando o dia a R$ 6,1802. A medida teve como objetivo conter a escalada do dólar e dar suporte à estabilidade cambial, mas o efeito foi apenas de curto prazo, uma vez que a valorização acumulada no mês foi de 2,98%.
Apesar da intervenção pontual, analistas apontam que a liberação parcial de emendas parlamentares pelo ministro do STF Flávio Dino não diminuiu as preocupações do mercado em relação à votação do orçamento para o próximo ano. Reginaldo Galhardo, gerente da corretora Treviso, ressalta que a atuação do BC tem sido insuficiente para reverter o cenário de desvalorização do real.
Recorde de Injeção de Dólares
Em dezembro, o BC injetou US$ 21,575 bilhões em leilões à vista, o maior volume já registrado em um único mês desde o início do regime de câmbio flutuante. Essa intervenção superou o montante de US$ 12,054 bilhões registrado em março de 2020, no início da pandemia. Apesar desse volume expressivo, a valorização do dólar em relação ao real só não foi maior do que a alta de 27,53% observada em relação ao peso argentino.
A forte valorização do dólar foi impulsionada, em parte, pela frustração do mercado com as medidas fiscais do governo, incluindo a isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil, medida com compensação incerta. Essa combinação de fatores levou o dólar a atingir o maior valor histórico em dezembro, chegando a ser negociado próximo de R$ 6,30.
Cenário Internacional
A valorização do dólar não se restringiu ao Brasil e à Argentina. A moeda americana também se fortaleceu em relação a outras divisas, como o rublo (24%), o peso mexicano (21%) e a lira turca (20%). Além da eleição de Donald Trump, que gerou temores de políticas inflacionárias nos Estados Unidos, a forte valorização do iene no primeiro semestre contribuiu para a pressão sobre as moedas emergentes. O aumento surpreendente dos juros pelo Banco do Japão (BoJ) encareceu a rolagem de posições de *carry trade* dessas divisas.
O índice DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas, acumulou alta de 6,6% no ano, atingindo 108,07 pontos. No Brasil, a taxa Ptax de hoje (R$ 6,1923) será repetida no dia seguinte, com uma queda de 0,11% na sessão e uma alta de 27,91% no ano.
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