A Polícia Civil do Rio Grande do Norte (PCRN) recolheu, na tarde desta quinta-feira (6), amostras das cinzas utilizadas durante a missa de Quarta-feira de Cinzas (5) na Paróquia de São José, em Carnaúba dos Dantas, após fiéis relatarem queimaduras na testa. O material será submetido à perícia para identificar a causa das lesões e auxiliar na investigação do caso. Este incidente ocorre em um momento em que a Polícia Civil do RN enfrenta outros desafios.
De acordo com relatos, as reações adversas na pele ocorreram logo após a aplicação da cruz de cinzas, um ritual tradicional que marca o início da Quaresma, período de 40 dias de preparação para a Semana Santa. A cerimônia na Paróquia de São José, realizada às 19h, atraiu diversos fiéis, alguns dos quais apresentaram vermelhidão e ardência na testa.
O padre Ronney Galvão, responsável pela celebração, explicou que a confecção das cinzas segue a tradição da Igreja Católica, simbolizando a mortalidade humana e um chamado à reflexão durante a Quaresma. Em nota, a paróquia informou que o preparo das cinzas “foi feito como de costume, absolutamente normal, como todos os anos”. A Quaresma em Natal e no interior do RN já havia começado com preparativos.
O padre Ronney Galvão, que está em Carnaúba dos Dantas há um ano, expressou surpresa com o ocorrido. “Vou completar quatro anos como padre e estou em Carnaúba dos Dantas há um ano. Nunca aconteceu uma eventualidade como esta. Aqui em Carnaúba dos Dantas também nunca aconteceu algo parecido”, afirmou.
Relatos dos Fiéis
A agricultora Neuma Alves, presente na missa com o neto, relatou ter sentido uma forte queimação logo após receber as cinzas. “Ontem eu fui à missa de cinzas com o meu neto. Na hora da distribuição, a gente recebeu [as cinzas]…Com alguns minutinhos a gente percebeu uma ‘ardenciazinha’, uma queimação”, disse Neuma.
A estudante Sara Heloísa Sousa e seu namorado, Luan Jackson, também experimentaram sensações similares. Sara descreveu: “Quando a gente entrou na fila, a gente escutou algumas pessoas reclamando de uma queimação na testa, depois de passar essas cinzas. A gente não tinha sentido nada, até então. Só que começou a queimar, batia o vento e queimava muito, imediatamente eu comecei a tirar e ficou essa marquinha ainda. Meu namorado ficou muito queimado, porque ele passou mais tempo que eu”.
Luan Jackson, que apresentou uma marca mais visível na testa, detalhou a experiência: “Foi colocada a cinza sobre o nosso rosto, eu voltei para o lugar que eu estava e, com pouco tempo, começou a queimar, e não passava. Estava queimando muito e eu corri para um amigo meu que é vizinho da igreja, lavei, e percebi que tinha queimado a pele. Eu perguntei ao pessoal se estava queimando e responderam que estava”.
Apesar do desconforto, Luan minimizou a situação e elogiou a comunidade paroquial: “A gente é muito amigo do padre, do pessoal de lá. Pessoal muito acolhedor, gente boa. Eles não tiveram culpa não”, disse.
Procedimentos de Preparo das Cinzas
O padre Ronney explicou que as cinzas são tradicionalmente obtidas a partir da queima dos ramos utilizados no Domingo de Ramos do ano anterior. Esses ramos são guardados e queimados nas fogueiras das festas juninas, e as cinzas resultantes são coletadas para uso na Quarta-feira de Cinzas seguinte.
Diante do ocorrido, o padre expressou seu espanto: “Ontem [Quarta-feira], em nossa comunidade, depois que impomos as cinzas nas testas das pessoas, os fiéis relataram que sentiram uma ardência, ou que sua pele havia sido lesionada. Nós não sabemos o porquê, os efeitos e as causas deste fato. É a primeira vez que ocorre, aqui na nossa cidade, algo deste tipo”. A situação ocorreu logo após o Carnaval de Natal se estender na Quarta-Feira de Cinzas.