A série de debates AquaEduca – Saberes dos Povos do Mar, Juventudes e Comunidades Tradicionais, realizada pelo Aquário Marinho do Rio de Janeiro (AquaRio) e encerrada em 21 de novembro, trouxe à tona a urgente necessidade de preservação dos oceanos e, em particular, dos manguezais. A iniciativa, parte da campanha Manguezal: Berçário de Vida, destacou a alarmante constatação de que apenas 5% dos recursos oceânicos são conhecidos.
Carolina Waite, pesquisadora da ONG Guardiões do Mar, afirmou à Agência Brasil: “Estamos na década dos oceanos, mas entendemos que a pesquisa oceanográfica tem poucos resultados. Conhecemos apenas 5% do que os oceanos têm e podem nos proporcionar de recursos benéficos, então, dentro dessa premissa, entendemos que a preservação e a conservação desse bem maior são necessárias através da troca de conhecimentos científicos e saberes. É a partir dessa fusão de saberes e conhecimento que chegaremos à conservação sustentável desse ambiente”.
O evento de novembro, intitulado Conexões do Mangue: Lideranças Tradicionais de Pescadores e Catadores de Caranguejo da Baía de Guanabara, reuniu representantes de comunidades locais, como Rafael dos Santos (Associação de Caranguejeiros e Amigos dos Mangues de Magé), Aucendino Ferreira (Associação Luthando Pela Vida) e Alaildo Malafaia (Cooperativa Manguezal Fluminense), para discutir o papel crucial dessas comunidades na preservação dos manguezais. A mediação ficou a cargo da pesquisadora Waite, que salientou a importância do conhecimento tradicional dessas populações na formulação de políticas públicas eficazes para a conservação do ecossistema.
Waite enfatizou que: “Dentro desse contexto, as pessoas que vivem e moram mais próximas desse território têm um conhecimento sustentável, um conhecimento local, que pode subsidiar as políticas públicas para a melhoria e para a conservação desse ecossistema tão importante”.
A campanha Manguezal: Berçário de Vida, lançada em 2024 com o apoio da Rede Nós da Guanabara, do Projeto do Mangue ao Mar (ONG Guardiões do Mar) e com convênio da Petrobras Transporte S.A (Transpetro), busca conscientizar a sociedade sobre a importância da conservação dos manguezais e das comunidades que deles dependem. A iniciativa utiliza atividades internas e externas no AquaRio para promover essa conscientização.
Os manguezais, ecossistemas costeiros na transição entre terra e mar, são essenciais para a biodiversidade marinha, atuando como berçários naturais para diversas espécies. Como explicou Waite, eles desempenham um papel fundamental no equilíbrio da temperatura global, por serem “ótimos sequestradores de carbono”, absorvendo e armazenando dióxido de carbono da atmosfera, principal causador do efeito estufa.
Entretanto, esses ecossistemas estão sofrendo ameaças significativas devido à ação humana, incluindo a exploração de recursos naturais, a expansão urbana, a pesca industrial e o descarte inadequado de resíduos.
Waite destacou a importância dos manguezais para a cadeia produtiva das comunidades tradicionais: “Os manguezais são importantes porque nos fornecem muitos serviços ecossistêmicos, serviços benéficos. Dentro disso, ele é o berçário da vida, como o próprio nome da campanha diz, e influencia diretamente na sociobiodiversidade. A importância está intimamente relacionada à questão da cadeia produtiva porque os manguezais estão intimamente ligados à biodiversidade marinha e, consequentemente, ao sustento dessas famílias que dependem exclusivamente desse ambiente para sua subsistência”.
Embora as rodas de conversa tenham terminado, a campanha continua até janeiro de 2025 com uma instalação imersiva no AquaRio, permitindo aos visitantes interagirem com representações dos ecossistemas de Restinga, Manguezal e Mar Aberto. Três salas educativas, denominadas Fontes de Conhecimento, complementam a iniciativa, oferecendo experiências interativas.
